No Evangelho de
hoje, Jesus responde aos discípulos de João Batista. Ao fazer isso, não
realiza um discurso teórico e abstrato. Jesus não é afeito às grandes
elaborações filosóficas, como fomos acostumados, para falar de Deus e de
sua atividade. O Senhor se define pelo que Ele realiza concretamente.
Por isso, Deus fala de suas ações libertadoras: os coxos andam, os cegos
veem, os prisioneiros são libertos... Portanto, para participarmos
desta graça devemos nos abrir ao Reino, do contrário seremos ainda
escravos, cegos e mudos. Será necessário o despojamento de João Batista,
sua pobreza. Não há outro caminho, senão o do desapego dos cárceres
deste mundo, fundados no poder e no acúmulo dos bens. Nossa libertação
depende da aceitação da proposta de Jesus. Esta certeza não elimina
nossos limites, mas nos coloca na estrada da esperança do Reino.
A primeira
leitura fala, igualmente, de uma proposta concreta de salvação. O povo
de Deus no Antigo Testamento vivia na esperança de tempos melhores.
Vivia escravo, longe de seu país, na pior. Mas não perdeu a esperança,
porque Deus prometeu a restauração (Is 35). Nós também, como o povo da
Bíblia, desejamos o mundo prometido por Deus: reino de paz, justiça e
amor. Ao mesmo tempo, também vivemos momentos de escravidão: nossos
medos, vazios, doenças, a saudade, a morte... Também queremos que Deus
venha e ponha fim ao mal, destrua o que nos perturba.
A espera da
vitória de Deus proclamada pelo Profeta Isaías são um convite ao ânimo e
a alegria: “Alegre-se a terra que era deserta...” (Is 35,1). “Dizei as
pessoas deprimidas (os corações abatidos): Criai ânimo! Não tenhais
medo!” O nosso mundo está mergulhado no desânimo, na falta de sentido,
na angústia e na ansiedade... Talvez em nenhuma outra época, as palavras
do profeta Isaías foram tão atuais. Os homens e mulheres deste tempo
precisam acolher esta palavra, remédio contra os dramas psíquicos tão
presentes. Para isso, será necessário reavivar a confiança no Senhor que
vem com amor.
Ele virá, Ele
vencerá. Mas, precisamos esperar como o agricultor, na paciência. A
paciência exige firmeza: “Firmai os joelhos debilitados...” (Is 35,3).
“Ficai firmes e fortalecei vossos corações, porque a vinda do Senhor
está próxima.” (Tg 5,8). O sofrimento e a paciência são quase sinônimos.
Seguir na esperança é seguir com paciência e sem lamúrias, como insiste
o Papa Francisco: “Uma das tentações mais sérias que sufoca o fervor e a
ousadia é a sensação de derrota que nos transforma em pessimistas
lamurientos e desencantados com cara de vinagre. Ninguém pode empreender
uma luta, se de antemão não está plenamente confiado no triunfo. Quem
começa sem confiança, perdeu de antemão metade da batalha e enterra os
seus talentos. Embora com a dolorosa consciência das próprias fraquezas,
há que seguir em frente, sem se dar por vencido, e recordar o que disse
o Senhor a São Paulo: ‘Basta-te a minha graça, porque a força
manifesta-se na fraqueza’ (2Cor 12,9). O triunfo cristão é sempre uma
cruz, mas cruz que é, simultaneamente, estandarte de vitória, que se
empunha com ternura batalhadora contra as investidas do mal. O mau
espírito da derrota é irmão da tentação de separar prematuramente o
trigo do joio, resultado de uma desconfiança ansiosa e egocêntrica”
(Evangelii Gaudium 85).
Texto: Pe Roberto Nentwig
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